coisas para pensar


Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador, 19/06/2013
Marilena Chauí: Haddad tem que quebrar cartel
“Enquanto o prefeito não quebrar o oligopólio dos empresários de ônibus, vamos andar sempre mal das pernas, não vai funcionar, mesmo que no curto prazo ele atenda às exigências do movimento e revogue o aumento da tarifa. No longo prazo o problema não estará resolvido”. Ela lembrou de quando era secretária municipal de Cultura, na gestão da prefeita Luíza Erundina (1989-93), quando foi elaborado o Projeto de Lei da Tarifa Zero, que pretendia custear o transporte público através de uma reforma tributária muncipal. “Erundina enfrentou a máfia dos ônibus, e uma reação em cadeia provocada pelos grandes empresários da construção civil e dos lojistas. Movimentos contrários dos chamados bairros nobres, como Cidade Jardim, Higienópolis, Moema, pipocaram. Foi uma coisa medonha no nível da sociedade civil, e os empresários de ônibus se mancomunaram com a Cãmara Municipal para impedir a aprovação do projeto.” [mais]

Leonardo Sakamato, no UOL, 19/06/2013
Em breve, o preço da passagem será o menor dos problemas do poder público
O objetivo principal dos atos não é para pedir o impeachment de Haddad, Alckmin ou Dilma; não é pedir recursos para educação, saúde e cultura – por mais que sejam pautas relacionadas ao direito à mobilidade urbana e importantíssimas; não é a favor ou contra o ovolacteovegetarianismo; não é pela volta da ditadura (sim, tem gente dodói da cabeça defendendo isso) ou a favor da redução de impostos; não é uma marcha contra a corrupção, a favor da contratação de reforços para o Palmeiras ou pela volta dos Teletubbies (adoro). Enfim, por mais que ela envolva descontentes de todos os cantos e com muitas reclamações, não é um grande “Cansei” contra o estado das coisas. Ela possui um guarda-chuva central, que mobiliza a maior parte das pessoas. Basta estar presente em um ato do começo ao fim para constatar isso. A maioria dos que gritam contra corrupção, pela saúde, pela educação, contra o pastor Feliciano, por mais teletubbies também entoam contra os 20 centavos [mais]

Saul Leblon, Carta Maior, 18/06/2013
Saturação e projeto
Todo o dispositivo conservador opera febrilmente no sentido de desqualificar a capacidade progressista de conduzir o passo seguinte da economia e da sociedade. O projeto que pretendem recuperar é sabido... As ruas requisitam uma nova agenda política para o Brasil... Não significa desqualificar conquistas e avanços preciosos dos últimos anos. Mas a história apertou o passo. Talvez até porque a musculatura do percurso agora o permite. A verdade é que as engrenagens e canais disponíveis não souberam interpretar o vapor acumulado nessa marcha batida. Um viés economicista pretendeu resolver na macroeconomia – à frio – aquilo que pertence ao escrutínio permanente da democracia: as escolhas do futuro e os sacrifícios do presente. Restritas, em grande parte, à negociação parlamentar, essas escolhas foram blindadas com o ferrugem dos interesses consolidados. Com os desvios sabidos e as consequências conhecidas. As ruas requisitam um aggiornamento da agenda política brasileira [mais]

Paulo Motoryn, Revista Vaidapé, 17/06/2013
O que queremos?
É fato, o reajuste do preço transporte só provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio: política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são reais. Na sua última edição, Veja contrariou sua linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir. Mas as páginas de Veja só revelam a nova postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade… Falácia [mais]

Breno Altman, Brasil 247, 19/06/2013
As ruas fazem soar alarme para o PT e o governo
A truculência policial serviu de condimento para a escalada de protestos e sua nacionalização. A defesa de um direito democrático fundamental, diante da qual vacilaram, nos primeiros momentos, tanto o ministro da Justiça quanto o prefeito paulistano, foi assumida com energia e radicalidade pela juventude das grandes metrópoles. Partidos e governos da direita foram os responsáveis pela escalada repressiva, mas tiveram a seu favor a tibieza de setores da esquerda surpreendidos com fenômenos alheios a suas planilhas. Parte do estado-maior reacionário refez suas contas, emparelhando discurso para disputar a rebelião e voltá-la contra o governo federal, provisoriamente arquivando a opção da violência. Até o momento, colheram um rotundo fracasso. Não apenas as manifestações e lideranças resistiram a abraçar suas bandeiras como foram frequentes cartazes e palavras de ordem contra o governador Alckmin e a própria imprensa, especialmente a Rede Globo. Mesmo os alvos escolhidos pelos segmentos mais radicalizados – o Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, a Assembléia Legislativa no Rio, o Congresso Nacional em Brasília – demonstram que os jovens não estão nas ruas a serviço da restauração antipetista. Tampouco parecem se sentir representados e incluídos, porém, no processo impulsionado a partir da vitória de Lula em 2002 [mais]

Arthur Taguti no blog do Nassif, 18/06/2013
A saída é uma "argentinização" do Brasil na prática política
O que vejo como única saída é uma "argentinização" do Brasil, não nos campos dos costumes ou cultura, claro, mas na prática política. Lá o Congresso aprova uma Ley de Medios porque se você parar em qualquer bar pra puxar uma conversa a chance é grande do sujeito conhecer com detalhes o assunto, sobre concentração da mídia, sobre o Grupo Clarin, e até é capaz do garçom e da faxineira entrarem na conversa pra dar seus pitacos [mais]

Do blog Escrevinhador, de Rodrigo Vianna, 18/06/2013 
“Foda-se o Brasil”, gritava o rapaz em SP
Um menino, a meu lado, grita “Fora, petralhada”, e “Fora, Dilma”. Puxo papo, e ele conta: “Sou do grupo Mudança Já, que luta por menos impostos e uma gestão eficiente”. Esse não parece da periferia. Pelo papo e pelas roupas. De fato, mora no Jabaquara – bairro de classe média. O menino fala mal do MPL – Movimento Passe Livre, que puxou as manifestações desde o início. “Esses não me representam, são agitadores e falam com jeito de comunista”. Êpa… De repente, o grupo dos mascarados se exalta e avança sobre os portões da Prefeitura. Voam pedras, arrancadas do calçamento do centro antigo. Pedras portuguesas. Jovens mascarados arremetem contra os homens da Guarda Civil Metropolitana. Um deles usa camiseta branca justa, bota em estilo militar e age com a volúpia típica dos provocadores que conhecíamos tão bem nos anos 80 – quando a Democracia ainda engatinhava. É o rapaz que aparece nas fotos acima…" [mais]

blog Incadescência, 18/06/2013
Isso é sim sobre 20 centavos: conservadorismo nos movimentos sociais
É preciso construir a luta na própria luta. Nossa militância não pode ser um esforço de persuasão, mas sim uma tática de resistência por insurreição. Recebo ao meu lado pessoas aliadas porque sei que é interessante para questionarmos a opressão ao vivo e a cores, mas estas pessoas precisam entender a cultura de protagonismo e de responsabilidade que estão envolvidas ao colocarem-se como uma pessoa aliada destes combates. Será por acaso que Arnaldo Jabor e Rafinha Bastos agora estão do nosso lado? Se você tem essa disponibilidade, esteja lá. Tente organizar-se junto com pessoas comprometidas a questionar estas posturas conservadoras, principalmente as posturas opressoras, burguesas e pacifistas. Tem gente interessada? Traga pra junto. Forje na luta o questionamento [mais]

Lincoln Secco, Viomundo 18/06/2013
Manifestantes serão enjaulados no discurso dos donos da Grande Imprensa?
A história nos ensina que cada movimento destes politiza de uma só vez milhares de pessoas. Elas não aprendem com teorias, mas com ações. Só que depois as teorizações, o aprendizado em coletivos permanentes é que consolida o movimento. Daí a pergunta essencial que não se põe agora, mas se colocará num futuro próximo: qual o saldo organizativo destas manifestações? Se elas terão influência eleitoral futura é o que menos importa. A Direita Midiática já começou vasta operação para se apossar do movimento de massas. Mas ela não terá sucesso porque nada tem a oferecer. As pessoas sabem que ela não apóia nenhuma das reivindicações do Movimento Passe Livre. Mas a vigilância do MPL deve ser redobrada e ele não pode permitir que a massificação dos atos seja submergida na oposição oficial partidária. [mais]

Blog do Rovai - 18/06/2013
E de repente tanta gente que se diz esquerda está com medo das ruas
Eram 18h, uma hora depois do horário combinado para a concentração, uma multidão lotava as ruas de Pinheiros. E a marcha começou. Há muito tempo São Paulo não tinha uma manifestação política como a realizada hoje. Ao menos desde o impeachment de Collor. Há tanto tempo não aconteciam tantas marchas simultâneas Brasil afora. Em eventos assim é difícil fazer cálculos, mas em São Paulo, não é exagero dizer que umas 100 mil pessoas marcharam de maneira vibrante pelas ruas. E a partir de um local que nunca foi ponto de marchas, o Largo da Batata [mais]

Vladimir Safatle - FSP 18/06/2013
Proposta concreta 
Há várias maneiras de esconder uma grande manifestação. Você pode fazer como a Rede Globo e esconder uma passeata a favor das Diretas-Já, afirmando que a população nas ruas está lá para, na verdade, comemorar o aniversário da cidade de São Paulo. Mas você pode transformar manifestações em uma sucessão de belas fotos de jovens que querem simplesmente o "direito de se manifestar". Dessa forma, o caráter concreto e preciso de suas demandas será paulatinamente calado. O que impressiona nas manifestações contra o aumento do preço das passagens de ônibus e contra a imposição de uma lógica que transforma um transporte público de péssima qualidade em terceiro gasto das famílias é sua precisão. Como as cidades brasileiras transformaram-se em catástrofes urbanas, moldadas pela especulação imobiliária e pelas máfias de transportes, nada mais justo do que problematizar a ausência de uma política pública eficiente. [mais]

Vinicius Wu - Carta Maior 16/06/2013
Sobre o que dizem as ruas 
Seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar [mais]

Natacastro / Café com nata 17 de Junho de 2013
Ei, reaça, vaza dessa marcha!
Não, reaça, eu não estou do seu lado. Não vem transformar esse protesto legítimo em uma ação despolitizante contra a corrupção. Não vem usar nariz de palhaço, não tem palhaço nenhum aqui. Agora que a mídia comprou a manifestação tu vem dizer que acordou? O povo já está na rua há muito tempo, movimentos sociais estão mobilizados apanhando da polícia faz muito tempo. São eles os baderneiros, os vândalos, os que atrapalham o trânsito. Movimento pelo transporte, Movimento Feminista, Movimento Gay, Movimento pela Terra, Movimento Estudantil… Ninguém tava dormindo! Essa violência que espanta todo mundo não é novidade, não é coisa de agora. Acontece TODOS os dias nas periferias brasileiras, onde não tem câmera pra registrar ou repórter para se machucar e modificar o discurso da mídia. [mais]

Cláudio Lembo - Terra Magazine 17/06/2013
Indignação
Só os ingênuos ou os maus intencionados não entendem o que está ocorrendo nas cidades brasileiras e, particularmente, em São Paulo, onde, nestes últimos anos, em política, tudo começou. Está nas ruas uma nova geração. Ela não participou dos acontecimentos marcantes do passado. A redemocratização. As diretas já. O impeachment de Collor. Deseja participar. Fazer ouvir sua voz. A mera democracia representativa, aquela que permite eleições de dois em dois anos, já não convence. É mero espetáculo vivido por terceiros, os políticos. Os jovens – e mesmo os adultos – querem ser ouvidos. Cansaram-se das exposições, sempre iguais, dos políticos tradicionais. Os partidos, encontrados às dúzias no mercado, já não representam a mais ninguém. São meras agremiações presididas por “donos de legendas” que pensam mais em si mesmos e menos na sociedade. As instituições que surgiram após 1988, ano da promulgação da Constituição, são meramente formais [mais]


Gilberto Maringoni - Viomundo, 16/056/2013
Ô Haddad, coragem! Baixa esse troço aí!
Raras vezes vi um político como Fernando Haddad. Em tese, deveria ser brilhante: tem um bom currículo, conhece teoria marxista e é um intelectual de razoável envergadura. Mas politicamente é limitado pelas artimanhas burocráticas do cargo. Poderia, nesses dias, dar um salto e se alçar a ser figura de proa no cenário nacional, demarcar campo e isolar a extrema-direita em São Paulo. Abriria caminho para uma derrota espetacular dos tucanos em seu ninho, em 2014. Mas opta pela via do medo e do menor esforço [mais]


João Montanaro - FSP 15/06/2013



Por Ferrer, no blog do Nassif em 16/06/2013
Setores reacionários se reorganizam em outro front


"Os reacionários não estão derrotados ainda. Com sua força repressora desmoralizada, eles estão se reorganizando em outro front. Partiram agora para a dispersão das bandeiras. E alerto que esse é muito mais perigoso para o movimento. Navegando pelas redes sociais tenho visto diversos vídeos, textos, cartazes conclamando para a manifestação. Dizem que não se trata de 20 centavos, não se trata se quer de um transporte coletivo gratuito. A bandeira agora é dizer que o aumento é só a última gota. Defendem que os manifestantes, na realidade, não toleram mais “bolsa isso, bolsa aquilo”, são contra os mensaleiros, contra a política fiscal do governo, contra os “tentáculos do governo nas empresas estatais”, contra os impostos, contra a inflação, etc. Trata-se de um claro objetivo de capitalizar o movimento para as bandeiras da direita reacionária desse país. O libertário movimento deve deixar claro. O aumento de 20 centavos é sim a última gota. Mas nosso “copo” está cheio é de um modelo econômico que não democratiza as oportunidades, que não democratiza a terra, que não democratiza a educação, que não democratiza a sociedade. Deve deixar claro que o direito de ir e vir passa obrigatoriamente pela gratuidade do transporte coletivo e que este deve ser pago por aqueles que dele se beneficiam (ou seja, todo cidadão) e não pelos seus usuários. Somos contra a corrupção, mas não somos idiotas." [mais]


O que o MPL está dizendo ao PT
Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo em 12/06/2013
"O PT acabou se abarrotando de alianças com setores que combatem pelo atraso social – como os ruralistas, por exemplo. Tinha que irromper protesto no Brasil, e tinha que ser de movimentos sem compromisso com o PT. Não estamos falando da fajutice retrógrada de pseudomovimentos como o Cansei e coisas do gênero. Falamos de coisas reais. Uma é o Movimento Passe Livre, o já conhecido MPL. A insatisfação de seus integrantes vai muito além, naturalmente, das tarifas de ônibus, embora se expressem por elas. Não é um grupo antipetista, embora os petistas gostem de dizer que é. Eles já estavam fazendo os mesmos protestos contra Kassab. Apenas a mídia ignorou. A mídia está dando destaque agora porque, presumivelmente, acha que pode fixar nos paulistanos a ideia de que Haddad não consegue gerir a cidade." [mais]




Repressão a protesto contra tarifa deixou 4 mortos em 1958
Estadão 16 de junho de 2013
Carlos Eduardo Entini - O Estado de S.Paulo
No final de novembro de 1958, os paulistanos foram dormir com uma tarifa e acordaram com outra. E, na noite seguinte, a cidade foi deitar com quatro manifestantes mortos e dezenas de feridos por causa dos distúrbios e da reação violenta da Força Pública, como era chamada a Polícia Militar na época.
Os passageiros só ficaram sabendo do reajuste quando viram, na manhã do dia 30, cartazes nos para-brisas dos ônibus e bondes com novo valor. Com o aumento na calada da noite, a tarifa dos ônibus saltou de Cr$ 3,50 para Cr$ 5,00 e a dos bondes, de Cr$ 2,50 para Cr$ 3,00.
A primeira reação da população foi de reclamação, mas às 10h30 começaram chegar notícias das primeiras paralisações de ônibus e bondes feitas por estudantes e que se estenderiam durante aquela jornada. Os alunos do Liceu Pasteur pararam um bonde no ponto final da Vila Mariana e outro foi impedido por alunos do Mackenzie, na Rua Maria Antonia. Durante toda aquela manhã e tarde, as manifestações transcorreram de forma pacífica. Estudantes do Mackenzie montaram um tabuleiro de xadrez em frente a um bonde parado.
Mas o tom das paralisações subiu durante o entardecer, quando já havia maior procura por transporte. Os estudantes já tinham bloqueado a circulação dos ônibus na Avenida São João e o comércio, baixado as portas e as vidraças do Cine Olido foram estilhaçadas. Em várias regiões, os manifestantes esvaziavam os ônibus; em outras, como na Praça 14 Bis, os fiscais da extinta Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) instruíam os motoristas a mandá-los para a garagem. Com os pontos de ônibus cada vez mais apinhados de gente, a Força Pública foi acionada para dispersar os manifestantes e liberar a circulação dos veículos na Praça da Sé e na Praça Clóvis, os terminais mais movimentados naquela época. Os soldados levavam, além de munição real, balas de festim e bombas de efeito moral.
Quando as tropas do Batalhão de Guardas e do Regimento de Cavalaria chegaram, em torno das 18 horas, foram recebidas com paus e pedras pelos manifestantes e não puderam impedir que os ônibus fossem depredados e incendiados. Às 21 horas, sem conseguir dispersar a multidão que estava reunida, a tropa foi orientada a atirar para o alto. Mesmo assim, o resultado foi de quatro mortos, três à bala, além de dezenas de feridos e presos.






AOS COMPANHEIROS QUE SE ESQUECERAM DE LEME
André Borges Lopes - 13/11/2013
Meus amigos postam seus comentários sobre a manifestação da última terça-feira e sobre as cenas de violência que se espalham na imprensa. Em comum, uma condenação às depredações gratuitas e à ação de grupos de vândalos que – mais do que se contrapor à habitual truculência da PM – mostraram que estavam lá muito mais para arrumar confusão do que pelos motivos do protesto. Me parece óbvio que no meio de milhares de pessoas que se manifestam podem estar aqueles velhos conhecidos dos paulistanos, que se disfarçam de torcedores para arrumar briga em estádios de futebol. Podem estar provocadores infiltrados por grupos que (por vários motivos) têm interesse em desmoralizar o movimento ou forçar um confronto descontrolado com direito a mortos e feridos. Por certo estão lá alguns jovens incendiários, radicais de ultra-alguma-coisa, sempre os primeiros a sugerir a alguém que jogue um paralelepípedo no parabrisas do camburão da Rota. Desses últimos, convém anotar e guardar o nome com carinho. Há grandes chances de que daqui a duas ou três décadas vocês os encontrem no rol de palestrantes e articulistas do Instituto Millenium, oferecendo comoventes testemunhos de fé e conversão.
Causou indignação e suspeita a destruição da fachada da Sede Nacional do PT. Indignação porque a prefeitura – mais que o governo do estado – alega ter trabalhado para reduzir o índice do reajuste, e deu sinais de alguma abertura para negociar. Suspeita porque a fúria das manifestações parece se dirigir muito mais contra novo prefeito Haddad do que contra o veterano tri-governador Alkmin. Os dois foram cúmplices no aumento dos transportes, mas até o momento nem uma casca de banana foi atirada nos jardins do palácio do Morumbi. O que é um excelente caldo de cultura para especulações e teses conspiratórias, que ligam o protesto a interesses partidários e a uma tentativa de desestabilizar a recente gestão petista. Explicar essa relação irada dos pequenos partidos de esquerda – como PSOL e PSTU – em relação ao PT é um assunto que está mais para Freud que para Marx e, por ora, eu não vou me alongar nesse ponto. A questão é que os últimos dias me trouxeram de volta uma lembrança incômoda e eu fui buscar o fio da meada lá no século passado. O ano era 1986 e a ditadura moribunda dava seus últimos suspiros já na “Nova República” sob a presidência de um ex-aliado dos militares: Zé Sarney, elevado ao cargo pelo desatino dos astros. Foi esse o ano do Plano Cruzado, o primeiro de muitas tentativas mal sucedidas de acabar com a inflação que ferrava o País. Era ano de eleição e os aliados do governo surfavam na euforia do povo com a farra dos preços congelados. Mas aqui em São Paulo a eleição para governador estava bem enrolada... [mais]


Do Facebook No dia 31 de agosto 2003, a prefeitura de Salvador, liderada pelo prefeito Antônio Imbassay, autorizou o aumento da tarifa de ônibus de 1,30 para 1,50. No dia seguinte os estudantes começaram a protestar e bloquear o trânsito da cidade que ficou parada por dez dias consecutivos. Detalhe: A 10 anos atrás não tínhamos redes sociais nem celulares com câmeras para ajudar na mobilização popular e na disseminação da informação além do ponto de vista da imprensa comum.Resultado: O valor continuou R$ 1,50 Meia- passagem o ano todo; Criação de uma comissão mista para estudar a desoneração dos custos da passagem do ônibus;Reativação do Conselho Municipal de - Transportes e ampliação do direito a meia-passagem para alunos de supletivos, mestrado e doutorado. (opa! não sei se ainda vigora; meia-passagem para estudante aos domingos.