coisas diferentes das outras

Janio de Freitas, FSP, 20/06/2013
Outra mobilização
A maior das manifestações em São Paulo dissolveu-se, já em altas horas da segunda-feira, como um exemplo de conduta democrática, eloquente na dimensão e ordeira na conduta. O anoitecer de terça, no entanto, marcou o início de arruaças e violências extremas, praticadas por pessoas que foram se encontrando nas cercanias da prefeitura, quase sempre tipos cujo aspecto não deixa muita dúvida sobre sua índole. Todos mais ou menos à mesma hora, e com a naturalidade de quem soubesse por que os demais estavam ali. O mesmo que se passara no ataque à Assembleia Legislativa no Rio, como sequela concomitante e noturna à passeata ordeira. O que explicaria tamanha modificação de conduta em São Paulo e o surpreendente desvio de propósito no Rio? Aqueles e os vários estouros de violência foram atribuídos a gente que se desgarrou do rio principal dos manifestantes. As circunstâncias e modos como se deram, porém, sugerem haver uma segunda mobilização, de fonte desconhecida, com total independência de fins e de ação. E aí está um grande perigo. [mais]

Ricardo Kotscho no Balaio do Kotscho, 19/06/2013
A dura nova rotina da vida no inferno paulistano
Agora, mesmo que o prefeito Fernando Haddad, depois de refletir mais um pouco e refazer contas em seu gabinete, que quase foi invadido na noite de terça-feira, decida voltar atrás e cortar o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus, o que vai acontecer? Vai todo mundo recolher seus cartazes, faixas e bandeiras, voltar placidamente para casa e devolver as ruas para quem nelas precisa circular? Motivos e pretextos certamente não faltarão para novas manifestações contra tudo e contra todos. Não sou de acreditar em conspirações, mas tem algo de muito estranho acontecendo quando um grupo de celerados passa horas depredando a sede da Prefeitura, bota fogo no carro de reportagens externas da Record, com os funcionários dentro, e depois sai saqueando e destruindo lojas, tudo sem ser molestado _ e fica tudo por isso mesmo, até o próximo protesto [mais]

Bob Fernandes
O que se joga nas ruas: passar livre ou controle político, Terra Magazine 17/06/2013 
Muito em jogo nas ruas de São Paulo, e Brasil afora, logo mais à tarde. Velhos, e não falo de idade, de gerações, e velhacos – que há em todos os quadrantes, latitudes e longitudes- começam a perceber o erro brutal que cometeram. Até que a truculência e a ignorância viessem à tona, fossem postas a nu pela repressão à manifestação em São Paulo na última quinta-feira (13), o discurso era o mesmo. Tudo aquilo, tudo isso, não era mais do que um bando de meninas e meninos mimados querendo aprontar. Em resumo, um bando de burguesinhos desocupados. Percebem, tardiamente, que os meninos e as meninas e o "Passe Livre" são catalisadores de algo muito mais amplo, profundo, e até aqui desconhecido em toda sua dimensão. Muito mais desconhecido ainda o desfecho, no curto, médio e longo prazos [mais]

Janio de Freitas
Efeitos imorais, Folha de S. Paulo, 16/06/2013
"Geraldo Alckmin não é só governador. É médico. Tem ciência plena do que armas como as balas de borracha podem causar. E como médico tem o dever e o compromisso de servir à integridade e à vida de todo ser humano. É sua, no entanto, a responsabilidade pelo porte, pela autorização de uso e, portanto, pelas consequências das armas tão perigosas. Na linguagem convencionada, a sua é a posição de mandante do que quer que ocorra. E do que tenha ocorrido e venha a ocorrer às vítimas dos tiros com balas de borracha" [mais]

BBC Brasil
A "repressão brutal" de jornalistas nos recentes protestos em São Paulo contra o aumento das tarifas do transporte público representa, na avaliação da ONG Repórteres Sem Fronteiras, "um desvio repressivo perigoso" e também uma ameaça à liberdade de informação [mais]

Protestos e repressão acirram tensão em São Paulo: confronto entre policiais e manifestantes nas ruas de São Paulo foi marcado por cenas de violência.  Pelo quarto dia em pouco mais de uma semana, milhares de manifestantes se reuniram nas ruas de São Paulo para protestar contra o aumento das tarifas de transporte público na cidade [mais]


El País, de Espanha, vê o 13 de junho

"Quizás Brasil, a partir de ahora tendrá que acostumbrarse a esas manifestaciones callejeras tan conocidas ya en otros países. Los manifestantes de São Paulo, antes aún de concluir la marcha de protesta del martes, ya anunciaron otra manifestación para el martes próximo. Hay hasta quién habla de “un antes y un después” de las protestas contra un aumento de 20 céntimos en los billetes de los autobuses. La esperanza es que, con todos sus defectos y desmanes, esas manifestaciones que podrían multiplicarse ahora en el país, sirvan para hacer crecer la democracia y enriquecer el país en vez de empobrecerlo." [mais]

Las calles del centro de São Paulo se convirtieron en la noche de este jueves en un campo de batalla por la cuarta manifestación contra el aumento de la tarifa del transporte público. La policía militar, que ya había advertido el miércoles de que iba a reprimir duramente a los manifestantes tras varios episodios de vandalismo en los que se rompieron escaparates y se formaron barricadas con fuego, cumplió su palabra. Al menos 55 personas resultaron heridas y el propio alcalde de la ciudad, Fernando Haddad, afirmó que en esta ocasión la protesta estuvo marcada por la "violencia policial". [mais]

Por Ronaldo Bressane, uma crônica do 13 de junho paulistano
"Por gentileza, aquele policial que me chamou de “meu querido” e ganhou a minha simpatia, pois vi, por trás de seu cansaço, que ainda se recusava um Rambo, ainda se recusava a ser um Geraldo Alckmin. Não sei o nome dele, mas gostaria de cumprimentá-lo, como a um amigo, um irmão. Ele me lembrou que, apesar de tudo o que havia presenciado naquela noite, contrariando todas as minhas impressões, nem todos aqueles policiais eram Geraldo Alckmin. Talvez alguns daqueles policiais ainda fossem seres humanos. Mas talvez isso dure pouco tempo. Ou quem sabe dure o tempo necessário para tirar do poder Geraldo Alckmin. Enquanto ainda somos gente." [mais]

Elio Gaspari
A PM começou a batalha na Maria Antonia : Quem acompanhou a manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus ao longo dos dois quilômetros que vão do Theatro Municipal à esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios começaram às 19h10, pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, com suas fardas cinzentas que, a olho nu, chegaram com esse propósito [mais]

Nirlando Beirão, na Carta Capital
"Houve um momento em que cheguei a vislumbrar em Geraldo Alckmin o cavanhaque e as polianas de Washington Luís, acabado retrato da oligarquia paulista. Não – ele se modernizou além das gravatas e do corte dos ternos. Nesse Estados Unidos do século XXI que crê que o homem foi contemporâneo dos dinossauros e que pode haver um terrorista islâmico nos espreitando debaixo da cama, Geraldo Alckmin faria bela figura como compagnon de route de Sarah Palin e de Bill O’Reilly." [mais]

Wálter Maierovitch, ao Terra
"Um governador que chama e dá um sinal verde para empregar uma Tropa de Choque numa manifestação. É a doutrina da lei e da ordem, do rigor. E esse rigor que fatura politicamente em cima da violência", afirmou Maierovitch, que chamou Alckmin de "Erasmo Dias de sacristia", comparando-o ao militar que comandou a ocupação do campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1977. "Se a gente fizer uma leitura dos discursos do Alckmin, ele é, nos tempos atuais, nada mais nada menos que um Erasmo Dias. Um Erasmo Dias de sacristia, porque tem todo um discurso camuflado". [mais]

NYT
Protests by an increasingly forceful movement coalescing against increases in bus fares shook Brazil’s two largest cities on Thursday night, the fourth time in a week that activists have taken to the streets in demonstrations that have been marked by clashes with security forces. [mais]

CNN Ireport
The protests that have been occurring in Brazil go beyond the R$0,20 (US$0.10) raise in public transport fares. Brazil is currently experiencing a widespread collapse of its infrastructure. There are problems with ports, airports, public transport, health and education. Brazil is not a poor country and the tax rates are extremely high. Brazilians see no reason to have such bad infrastructure when there is so much wealth that is so highly taxed. In the state capitals people spend up to four hours per day in traffic, either in their cars or on crowded public transport which is of very poor quality [mais]

The Economist, 18/06/2013
Protests in Brazil - The streets erupt
WITH stunning speed, protests that started on June 6th in São Paulo over a 20-centavo (nine-cent) hike in bus fares have morphed into the biggest street demonstrations Brazil has seen since more than 20 years ago, when citizens took to the streets to demand the impeachment of their president on corruption charges. The first protests were dismissed by paulistanos unsympathetic to the organisers, Movimento Passe Livre (The Movement for Free Travel), a radical group with the unrealistic aim of making public transport free at the point of use. Commuters were unimpressed by having already hellish journeys made even worse by road closures and outraged by the vandalism committed by a hard core. The city’s conservative newspapers called for the police to crack down [mais]